quarta-feira, 16 de outubro de 2013

TRECHO DO MEU ROMANCE "ENCRUZILHADA"

"Sentou num banco sujo do Largo da Batata e prestou atenção nos transeuntes: bêbados ziguezagueando como formigas, garotas de programa atrás de clientes, trombadinhas cheirando cola e alguns desiludidos, como ele. Mas apesar da cena degradante, as luzes dos bares, dos faróis dos carros e das poucas lojas ainda abertas, deixavam a noite um pouco mais agradável.

Anderson tentou se esquecer dos problemas. Mas não conseguiu. Um senhor bem trajado, com um terno cinza, sapatos bico fino engraxados, alto, magro e de cabelos pretos escorridos que iam até um pouco abaixo dos olhos, sentou-se ao seu lado e fez uma rápida pergunta, dando início a uma longa conversa. De início, Anderson achou que o homem era francês, mas já nas primeiras palavras pronunciadas por ele, descartou a hipótese:

— É assim que eu gosto de ver, pessoas fazendo o que curtem... — disse o homem que acabara de chegar, com os cotovelos apoiados nas pernas e com os dedos entrelaçados.
— Eu não acredito que elas façam isso porque gostam de fazer. Algumas pessoas são forçadas a entrarem neste mundo da prostituição e das drogas. Falta oportunidade, emprego e igualdade. Se bem que algumas estão nesta vida porque gostam mesmo... — disse Anderson num tom de desabafo.
— É justamente destas pessoas que estou falando. Sei muito bem quais delas estão ali porque realmente querem estar, e isso me alegra muito.

Apesar da elegância que o homem apresentava nos gestos e no modo de falar,  Anderson não o conhecia e começou a sentir um leve receio em continuar a conversa, afinal, o mundo está cheio de loucos e de pessoas com más intenções, e ele já estava bem acostumado com isso. Mas uma simples palavra pronunciada por aquele homem o fez continuar ali sentado, não por vontade própria, pois suas pernas ficaram travadas.

— Anderson, Anderson... Estou aqui para lhe oferecer uma boa oportunidade, afinal, você não quer mais viver essa vida miserável, não é verdade? O tempo está passando, você está ficando mais velho e nada de diferente acontece em sua vida. Eu  sei a chave do sucesso e posso oferecê-la a você. Basta dizer uma simples palavra.

Ideias passam pela mente de Anderson: o homem ali sentado poderia ser uma pessoa bem sucedida que gostaria de dividir o seu sucesso com um desafortunado ou poderia ser um trambiqueiro que estava tentando tirar o pouco que ele tinha, ou seja, quase nada. Mas o que ele ainda não sabia, era como aquele homem sabia o seu nome, afinal, não era ninguém que ele conhecia, e pelo menos a sua mente era muito boa para isso. Algumas pessoas diziam que ele tinha uma mente fotográfica, e o único proveito que tirou disso, foi quando vendeu as lucrativas latinhas de pomada Prometex. Cada imagem do rosto das quatrocentas e oitenta e sete pessoas que ele vendeu, por mais incrível que pareça, algo que poderia até ir para o Guiness Book, o livro dos recordes, estão armazenadas em sua mente.
Anderson tentou não dar muita atenção para o homem ao seu lado, mas deixou a conversa fluir.

— Você não está acreditando em mim, não é verdade? Pensa que sou um desses malandros que andam por aí tentando aplicar golpes, assim como você aplicou em mais de quatrocentas pessoas, correto? Mas antes de dizer qualquer palavra, saiba que sei coisas que você ou qualquer outra pessoa desta rua jamais sonharia em saber. Se você pudesse penetrar em minha mente por apenas alguns segundos e pudesse ler os meus pensamentos, garanto que você nunca mais seria uma pessoa sã. Então acredite no que eu digo, eu posso lhe oferecer tudo o que você deseja, qualquer coisa, basta dizer uma única palavra."

Trecho do meu romance "Encruzilhada" (Literata).  Saiba como adquirir: Clique aqui.

Para ouvir o Spot (mp3) do livro: Clique aqui.   

Um comentário: