quarta-feira, 14 de novembro de 2012

JANTAR DOS DEUSES - POR ADEMIR PASCALE


Ela olhou para o céu estrelado e a névoa, com seu fino véu, cobria a densa vegetação. O ar gélido que aspirava adentrava prazerosamente nos pulmões, renovando suas forças e trazendo-lhe conforto, enquanto descalça caminhava com leveza sobre o orvalho, como se dançasse uma valsa solitária entre as frondosas árvores do bosque. Os seres noturnos, acostumados, presenciavam a jovem de cabelos vermelhos e cacheados que, vez ou outra, rodopiava, cantarolava e sumia atrás de alguns arbustos à procura de ervas raras. Já em sua cabana, bem próxima dali, subia pela chaminé uma fina e disforme fumaça esbranquiçada. Um gato preto, em meio aos livros antigos de uma estante empoeirada, observava, sobre um pentagrama, o borbulhar de um grande caldeirão que em seu conteúdo ainda se debatia, amarrado e amordaçado, o namorado de uma bruxa que lhe prometera, naquela noite, um jantar digno dos deuses.

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