Estou trabalhando com afinco em meu novo romance e as páginas vão surgindo, assim como deve ser. Como já disse algumas vezes, sinto grande inspiração ao ouvir música enquanto escrevo, e quando não posso ouví-las, a imaginação faz o seu trabalho. Bom, ainda tenho muito para escrever, mas deixo um pequeno trecho como degustação. O título ainda não posso revelar ;)
DEGUSTAÇÃO DO MEU PRÓXIMO ROMANCE:
[...] Esta foi a segunda vez que o jornal local estampou a foto de Anderson nu na primeira capa, exceto pela faixa preta que cobria a sua genitália.
A primeira foi quando cansado da vida encheu a cara num boteco. Dormiu na sarjeta e acordou sem as roupas.
Este acontecimento, e alguns outros, levaram Anderson para o mundo do crime, passando a carregar uma faca de cortar pão enrolada em uma blusa de lã. Mas faltava coragem para assaltar e mesmo que insistisse para concluir os seus miraculosos planos, nada dava certo. Com ressalva de quando saiu de um supermercado com duas sardinhas em lata nos bolsos da calça. O primeiro furto foi muito fácil e isso incentivou o rapaz. Mas no segundo, quando tentou sair com um salame tipo hamburguês embaixo da camisa, foi pego pelos seguranças no estacionamento.
Felizmente, não foi preso, mas levou uma surra dentro da câmara fria do supermercado que o deixou de cama por vários dias.
E isso o fez refletir muito, estava cansado de apanhar.
Recordações da sua infância lhe invadiram a mente: lembrou-se de quando levou o primeiro tapa no rosto quando tinha cinco anos da sua prima de três anos.
Os outros tapas, chutes, puxões de cabelo, beliscões e socos vieram num turbilhão de imagens.
Ao sair engatinhando da câmara fria, Anderson prometera para si mesmo que nunca mais apanharia em sua vida. E como os sábios dizem: Deus escreve certo em linhas tortas. A surra que levou dos seguranças despertou-lhe a vontade em procurar como se defender. Precisava enrijecer os músculos e tornar-se mais hábil com os punhos. Mas a promessa ficou para o dia seguinte, pois enquanto engatinhava em direção à porta da saída, os seguranças do turno seguinte chegaram, ficaram sabendo do ocorrido e acabaram estreando suas botas novas no pobre rapaz.
Um mês depois, já quase recuperado da surra, resolveu caminhar, mancando, pelas ruas do bairro de Pinheiros. Procurava atentamente por algo que pudesse lhe auxiliar nesta luta contra a humilhação, e não foi difícil notar o musculoso boxeador estampado no grande outdoor na fachada da academia Heróis do Ring. Anderson adentrou acanhadamente no estabelecimento. O cheiro de suor revelava que ali se treinava de verdade. E logo ele se imaginou como um verdadeiro herói: forte, atraente e corajoso. Finalmente as portas se abriram, bastava ir até a recepção e se inscrever.
Mas as coisas não eram tão fáceis assim. Ele estava sem dinheiro e a mensalidade não era acessível para o seu bolso. Na realidade, nenhuma mensalidade naquele momento seria acessível.
Ele precisava pensar e resolver aquela desagradável situação. Não desistiria tão fácil de algo que tanto o ajudaria. E enquanto raciocinava, um tique nervoso o assolava. Anderson sempre coçava a cabeça com frequência quando queimava neurônios em grande quantidade, e não era apenas isso, as batidas da sola do sapato do pé esquerdo acompanhava o ritmo, causando um contínuo e irritante som para os que estavam próximos, e naquele caso, era o atendente que tentava organizar as fichas dos alunos da academia, algo que ele deixou para depois, não por vontade própria.
Foi então, por acaso, que Anderson enxergou uma placa, um pouco amarelada, fixada na parede: Precisa-se de faxineiro para trabalhar 12 horas por dia de segunda à sábado. Pagamento: 1 salário mínimo + almoço.
Seria uma ótima saída, a questão do problema: trabalhar na academia e treinar depois do expediente. E foi isso o que ele fez, conversou com o atendente, que pegou uma prancheta e fez uma pequena entrevista:
- Qual o seu nome completo?
- Anderson Gutierres.
- Nacionalidade?
- Brasileira.
- Idade?
- Acabei de completar dezenove anos.
- Fuma?
- As vezes.
- Bebe?
- Bebo, mas só nos finais de semana.
- Tem preferência para horário?
- Não.
- Tem experiência como faxineiro.
- Não tenho, mas garanto que aprendo bem rápido, afinal, quem não sabe varrer um chão, tirar pó ou limpar algumas janelas?
- Tem que limpar também os banheiros...
- É?... bom, não tem problema, eu limpo – Anderson faz um sorriso forçado.
- Humm... Gostei, você é bem direto. Está contratado – disse o atendente e também dono da academia, completando as lacunas da ficha. – O pagamento será sempre no quinto dia útil do mês, ok?
- Ok! Mas antes posso fazer uma pergunta? – disse Anderson feliz da vida e quase atropelando as palavras.
- Claro!
- Percebi que o espaço da academia é bem amplo. Notei também algumas salas lá no fundo. Será que eu posso treinar e dormir aqui depois do meu expediente de trabalho?
O dono da academia se debruça sobre o balcão, depois põe a mão no queixo e olha fixamente para o vazio, depois para Anderson. A espera é terrível para aquele jovem, uma eternidade... Basta uma simples resposta para mudar a vida de uma pessoa. Mas as coisas boas demoram para acontecer, principalmente para Anderson. Demoram muito, e isso o deixa mais uma vez impaciente, e a sua vontade é de estrangular o homem a sua frente e arrancar a resposta daquela garganta. O tic-tac do relógio na parede se torna insuportável. As batidas da sola do pé esquerdo se iniciam, só que agora são contadas em pensamento, uma por uma, pelo menos até a batida de número dezessete, quando finalmente, após trinta e oito segundos de tensão e gotas de suor escorrendo de sua testa franzida, a fatídica resposta sai em câmera lenta da boca daquele homem que pode lhe salvar a vida e a sua integridade: [...]
[...] Esta foi a segunda vez que o jornal local estampou a foto de Anderson nu na primeira capa, exceto pela faixa preta que cobria a sua genitália.
A primeira foi quando cansado da vida encheu a cara num boteco. Dormiu na sarjeta e acordou sem as roupas.
Este acontecimento, e alguns outros, levaram Anderson para o mundo do crime, passando a carregar uma faca de cortar pão enrolada em uma blusa de lã. Mas faltava coragem para assaltar e mesmo que insistisse para concluir os seus miraculosos planos, nada dava certo. Com ressalva de quando saiu de um supermercado com duas sardinhas em lata nos bolsos da calça. O primeiro furto foi muito fácil e isso incentivou o rapaz. Mas no segundo, quando tentou sair com um salame tipo hamburguês embaixo da camisa, foi pego pelos seguranças no estacionamento.
Felizmente, não foi preso, mas levou uma surra dentro da câmara fria do supermercado que o deixou de cama por vários dias.
E isso o fez refletir muito, estava cansado de apanhar.
Recordações da sua infância lhe invadiram a mente: lembrou-se de quando levou o primeiro tapa no rosto quando tinha cinco anos da sua prima de três anos.
Os outros tapas, chutes, puxões de cabelo, beliscões e socos vieram num turbilhão de imagens.
Ao sair engatinhando da câmara fria, Anderson prometera para si mesmo que nunca mais apanharia em sua vida. E como os sábios dizem: Deus escreve certo em linhas tortas. A surra que levou dos seguranças despertou-lhe a vontade em procurar como se defender. Precisava enrijecer os músculos e tornar-se mais hábil com os punhos. Mas a promessa ficou para o dia seguinte, pois enquanto engatinhava em direção à porta da saída, os seguranças do turno seguinte chegaram, ficaram sabendo do ocorrido e acabaram estreando suas botas novas no pobre rapaz.
Um mês depois, já quase recuperado da surra, resolveu caminhar, mancando, pelas ruas do bairro de Pinheiros. Procurava atentamente por algo que pudesse lhe auxiliar nesta luta contra a humilhação, e não foi difícil notar o musculoso boxeador estampado no grande outdoor na fachada da academia Heróis do Ring. Anderson adentrou acanhadamente no estabelecimento. O cheiro de suor revelava que ali se treinava de verdade. E logo ele se imaginou como um verdadeiro herói: forte, atraente e corajoso. Finalmente as portas se abriram, bastava ir até a recepção e se inscrever.
Mas as coisas não eram tão fáceis assim. Ele estava sem dinheiro e a mensalidade não era acessível para o seu bolso. Na realidade, nenhuma mensalidade naquele momento seria acessível.
Ele precisava pensar e resolver aquela desagradável situação. Não desistiria tão fácil de algo que tanto o ajudaria. E enquanto raciocinava, um tique nervoso o assolava. Anderson sempre coçava a cabeça com frequência quando queimava neurônios em grande quantidade, e não era apenas isso, as batidas da sola do sapato do pé esquerdo acompanhava o ritmo, causando um contínuo e irritante som para os que estavam próximos, e naquele caso, era o atendente que tentava organizar as fichas dos alunos da academia, algo que ele deixou para depois, não por vontade própria.
Foi então, por acaso, que Anderson enxergou uma placa, um pouco amarelada, fixada na parede: Precisa-se de faxineiro para trabalhar 12 horas por dia de segunda à sábado. Pagamento: 1 salário mínimo + almoço.
Seria uma ótima saída, a questão do problema: trabalhar na academia e treinar depois do expediente. E foi isso o que ele fez, conversou com o atendente, que pegou uma prancheta e fez uma pequena entrevista:
- Qual o seu nome completo?
- Anderson Gutierres.
- Nacionalidade?
- Brasileira.
- Idade?
- Acabei de completar dezenove anos.
- Fuma?
- As vezes.
- Bebe?
- Bebo, mas só nos finais de semana.
- Tem preferência para horário?
- Não.
- Tem experiência como faxineiro.
- Não tenho, mas garanto que aprendo bem rápido, afinal, quem não sabe varrer um chão, tirar pó ou limpar algumas janelas?
- Tem que limpar também os banheiros...
- É?... bom, não tem problema, eu limpo – Anderson faz um sorriso forçado.
- Humm... Gostei, você é bem direto. Está contratado – disse o atendente e também dono da academia, completando as lacunas da ficha. – O pagamento será sempre no quinto dia útil do mês, ok?
- Ok! Mas antes posso fazer uma pergunta? – disse Anderson feliz da vida e quase atropelando as palavras.
- Claro!
- Percebi que o espaço da academia é bem amplo. Notei também algumas salas lá no fundo. Será que eu posso treinar e dormir aqui depois do meu expediente de trabalho?
O dono da academia se debruça sobre o balcão, depois põe a mão no queixo e olha fixamente para o vazio, depois para Anderson. A espera é terrível para aquele jovem, uma eternidade... Basta uma simples resposta para mudar a vida de uma pessoa. Mas as coisas boas demoram para acontecer, principalmente para Anderson. Demoram muito, e isso o deixa mais uma vez impaciente, e a sua vontade é de estrangular o homem a sua frente e arrancar a resposta daquela garganta. O tic-tac do relógio na parede se torna insuportável. As batidas da sola do pé esquerdo se iniciam, só que agora são contadas em pensamento, uma por uma, pelo menos até a batida de número dezessete, quando finalmente, após trinta e oito segundos de tensão e gotas de suor escorrendo de sua testa franzida, a fatídica resposta sai em câmera lenta da boca daquele homem que pode lhe salvar a vida e a sua integridade: [...]
Parabéns,
ResponderExcluirVocê, através do seu blog, foi selecinado para receber o Prêmio Dardos.
Pegue o seu selo e as instruções em http://osretratosdamente.blogspot.com/2010/11/premio-dardos-segundo-selo.html
Abraços Mágicos,
Danny Marks
Adorei!E já estou seguindo o blog
ResponderExcluirEu tb estou escrevendo um livro sobre os vampiros
dê uma olhadinha no meu blog tb!