quinta-feira, 5 de agosto de 2010

MOMENTO MELANCOLIA

O CAVALEIRO SEM VIDA
Em sua montaria parou, mas não olhou para trás. As narinas desacostumavam, aos poucos, com o perfume do âmbar, mas algo impossível, mesmo por uma eternidade, de ser esquecido. Lembranças surgiram como relâmpagos; a amada que ficou no passado, debruçada sem vida num mar rubro e pegajoso. Olhou para o céu e enxergou o negrume da morte que chegava como um devastador furação arrancando as raízes das poucas esperanças que ainda lutavam para sobreviver. O coração desesperado pediu para voltar, mas os olhos não o obedeceram e teimaram em continuar vislumbrando o horizonte. As mãos trêmulas seguravam as rédeas molhadas e o peso da espada tornou-se insuportável. Cavalgou, parou e seus olhos se encheram de lágrimas ao recordar-se das belas e suaves palavras que não seriam mais pronunciadas, lembranças que ficavam para trás num círculo de fogo que nunca se apaga. Cavalgou. O suor cobriu-lhe a testa e o calor lhe trouxe lembranças daquela que tombou sem vida apagando os sonhos de um homem que morria aos poucos. A morte era apenas uma etapa, um estágio que aquele cavaleiro tanto ansiava. Ele olhou mais uma vez para o horizonte e um turbilhão de demônios se aproximavam em suas montarias fantasmagóricas e escudos reluzentes. Ele apenas cavalgou e sorriu quando viu o brilho da primeira lança apontada para o seu peito. Ele cavalgou, mas não olhou para trás.

Ademir Pascale
@ademirpascale

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