Os dedos ossudos levantaram o colarinho da jaqueta de couro, depois arranharam freneticamente a empoeirada guitarra, enquanto duas cavidades ósseas vislumbravam a Lua Cheia. Mefisto pulava de túmulo em túmulo, remexia os ossos do corpo e apontava, quando não caía, o indicador para o vazio e os antigos retratos ovais das lápides. Os companheiros saiam de suas tumbas: o velho Bob na bateria improvisada;Ted no contrabaixo e Ana e Cínthia no coral. O pior sempre sobrava para Pedro, o coveiro. No dia seguinte era aquela bagunça: velas espalhadas, frango de despacho sem as penas, vasos quebrados e estátuas sem os braços. Mas desta vez o zelador do cemitério encontrou algo que o fez sorrir, excelente souvenir, o dedo indicador de um antigo arruaceiro.
Ademir Pascale
@ademirpascale
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Vibrante como todo o texto que escreve o Ademir. Menestrel das letras obscuras e da arte subversiva aponta caminhos ao novo autor quando supre lacunas narrativas com a inteligência do hábil leitor. É um presente benfazejo à literatura contemporânea... Um texto que Poe aplaudiria contente ao ler.
ResponderExcluirBravo!