quinta-feira, 20 de setembro de 2012

LITERATURA BRASILEIRA ESQUECIDA PELA MÍDIA - POR ADEMIR PASCALE

Gráfico representativo sobre a pesquisa que fiz nos portais IG, Terra, Bol, Yahoo, G1 e R7, em 20/09/12.

O número de leitores e escritores brasileiros elevou-se assustadoramente nos dois últimos anos. Sites como o Skoob (www.skoob.com.br), que é a maior rede social de leitores do Brasil, revela que realmente existe um grande público interessado na literatura nacional. Ainda no Skoob, até o dia 20 de setembro de 2012, a página do livro “A Batalha do Apocalipse”, de Eduardo Spohr (Editora Verus), registra que a obra já teve 8684 leitores e mais 8095 leitores interessados em ler. Já o livro “Os Sete”, de André Vianco (Editora Novo Século), revela que a obra já teve 9038 leitores e mais 2816 leitores interessados em ler. O escritor Paulo Coelho, com o livro “O Alquimista” (várias editoras), teve 21222 leitores e a carismática Thalita Rebouças, com o livro “Fala sério, mãe” (Editora Rocco), teve 5690 leitores. Lembrando que estes números de leitores representam apenas os internautas cadastrados do site Skoob.
Como escritor, ativista cultural e internauta, estou sempre antenado nas notícias relacionadas ao mundo da literatura. Visito constantemente blogs, sites e grandes portais. Mas algo vem chamando minha atenção: apenas os blogs e poucos sites estão destacando e noticiando constantemente notícias relacionadas aos autores nacionais e suas obras. É possível encontrar nesses blogs notícias sobre lançamentos de livros, eventos literários, promoções culturais com livros etc. Blogs como “Amores e Livros (www.amoreselivros.blogspot.com.br), “Livros, Leituras e Afins” (www.livrosleituraseafins.blogspot.com.br) e “Leituras de Paty” (www.leiturasdepaty.blogspot.com.br), revelam que jovens leitores cansados em procurar em outras mídias notícias sobre os seus livros e autores nacionais preferidos, criam os seus próprios canais para veicular suas notícias, destacando-se as resenhas e as promoções culturais com exemplares de livros. Sites como “Digestivo Cultural” (www.digestivocultural.com), que possui vários colunistas especializados em literatura e “Cronopios” (www.cronopios.com.br) que destaca notícias literárias em sua página principal, mostra que existem editores, mesmo que ainda poucos, interessados em nossa literatura.
Em pesquisa que fiz no dia 20 de setembro de 2012 nas matérias de capa das páginas principais dos portais IG, Terra, Bol, Yahoo, G1 e R7, constatei que destaca-se notícias sobre esportes, política, cinema e por último e infelizmente a literatura. Notícias sobre política prevale no portal G1 (www.g1.com.br). Já notícias sobre esportes, destacando-se a modalidade futebol, prevaleu na maioria dos grandes portais, como R7 (www.r7.com.br), Yahoo (www.yahoo.com.br), Bol (www.bol.com.br), Terra (www.terra.com.br) e IG (www.ig.com.br). A literatura nacional e internacional, foi a menos noticiada em todos os portais pesquisados. Em alguns dos portais citados, as notícias de capa sobre literatura foram nulas.

A mídia impressa brasileira, jornais e revistas, raramente publica e destaca notícias relacionadas aos escritores nacionais, idem a mídia televisiva e radiofônica. Um bom exemplo é o evento Fantasticon, que é um dos mais importantes da literatura fantástica nacional, com curadoria do editor Silvio Alexandre. Segundo o release no próprio site: “O Fantasticon conta com palestras, mesas-redondas, oficinas, mostra de filmes, exposições, lançamentos, sessões de autógrafos, atividades lúdicas e momentos de confraternização que colaboram para a troca entre os participantes que ampliam suas visões sobre a literatura fantástica brasileira e internacional. A finalidade é estimular e ampliar a reflexão crítica sobre a Literatura Brasileira, em geral e a Literatura Fantástica, em particular, apresentando, discutindo e divulgando as produções nacionais e internacionais, de forma acessível ao público em geral”. Estive no evento Fantasticon, dia 15/09/12, e mesmo com muitos autores e editores presentes, notei a falta da mídia, com ressalva dos já citados blogueiros. O Fantasticon é um evento literário com entrada franca e qualquer pessoa pode participar. A programação completa pode ser lida na página: fantasticon.com.br/?page_id=282

Fiz uma pequena entrevista com escritores, editores e pessoas envolvidas com a literatura nacional. Veja a opinião de cada um referente a falta de interesse da imprensa em noticiar eventos literários, lançamentos e notícias relacionadas aos escritores nacionais e suas obras:

Cristina Judar (São Paulo), roteirista da HQ “Vermelho, Vivo” (Devir):

Acredito que, assim como a literatura ainda ocupa um espaço restrito na vida de muitas pessoas, o mesmo acontece com a grande maioria dos veículos de comunicação. Ou seja, a divulgação de obras e eventos literários em geral não ocupa um espaço de destaque, e acaba sendo divulgada apenas por veículos específicos, relacionados a cultura em geral. Isso é um retrato de como o Brasil encara a literatura. Para muitos, os livros não passam de um bem de consumo pouco acessível, que não ocupa um status de prioridade em suas vidas. Ademir, pra finalizar minha resposta, apesar do espaço destinado à literatura ser ainda limitado, acredito que a situação tenha melhorado bastante nos últimos anos, principalmente com o destaque que é dado aos festivais literários, que têm crescido muito no Brasil.

Clinton Davisson (São Paulo), presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica:

Como jornalista já aconteceu mais de uma vez de estar indo fazer matéria sobre lançamento de livro, no caso, lembro de um episódio do lançamento do livro da atriz Myriam Rios e, no meio do caminho, ter que desviar para cobrir um acidente com 8 mortos. O fato é que a cultura não é considerada fundamental para o Brasileiro. Um jornal com gente morta na capa vende mais que um jornal com um livro na capa.

Carol Chiovatto (Guarulhos, SP), Coordenadora de Marketing e Comunicação da Editora Tarja:

A imprensa noticia o que vai dar audiência. O público leitor é reduzido. Eles só noticiam fenômenos de vendas, como Martin e, mais recentemente, 50 Shades of grey. Não é pelo fato de serem estrangeiros que viram notícia, é preciso atentar para isso. São livros que já são best-sellers lá fora e chegam com esse grande argumento de marketing. Cria-se um frisson em torno do livro, como foi Com Harry Potter, Crepúsculo e Jogos Vorazes. O fandom tem a impressão de que esses livros vendem porque são estrangeiros, mas na verdade eles vendem porque já chegam ao país como best-sellers. Lá fora tem muito mais autores tentando batalhar um lugar ao sol do que aqui. Poucos sobressaem. É assim aqui, como em qualquer lugar do mundo. Temos a diferença de um público leitor mais reduzido, talvez, mas, se aqui a literatura compete com política e futebol, nos EUA talvez a competição seja com política e basquete ou futebol americano, na Inglaterra com certeza compete muito com economia e política, além de futebol. Para boa parte do público, esportes e economia são o que interessa, e a imprensa reflete isso.

Alfer Medeiros (São Paulo), autor dos livros “Fúria Lupina - América Central” (Editora Literata) e “Livraria Limítrofe” (Editora Estronho):


Os veículos de comunicação buscam o máximo de público para apresentar como números a patrocinadores e anunciantes. Com base nisso, preferem apostar em assuntos mais "garantidos", que atraiam o interesse de boa parte da população. O futebol é um grande atrativo para o grande público, e isso justifica o investimento massivo dos veículos de mídia ao redor do esporte, não só pela audiência, como também pelos lucros de venda de produtos. Falando particularmente da área de entretenimento, a literatura disputa espaço com outras mídias como cinema, séries de TV e games. E acaba mostrando-se pouco atraente em relação a elas, por não ter um impacto inicial tão forte como um jogo em alta definição ou um filme repleto de efeitos especiais. Isso tira parte do interesse pela leitura, principalmente entre os mais jovens.

Rogers Silva (Uberlândia, Minas Gerais), autor do livro "Manicômio":

Na verdade, a literatura nunca foi contemplada pelos meios de comunicação de massa. Hoje, menos ainda. A literatura, infelizmente, ainda é para pouquíssimos no Brasil. Isso se deve, claro, ao baixo índice de leitura no país. Futebol, por exemplo, já é um assunto que interessa a quase toda a população. Por isso é tão destacado pela mídia, em especial pelos grandes meios de comunicação, como Globo, Record, Uol, Yahoo, Folha de São Paulo, etc. Para que isso mude, é necessário, primeiramente, que surjam mais pessoas (muito mais pessoas) interessadas por literatura e eventos literários. A meu ver essa realidade não será modificada em tão breve.

***

Para os leitores e a imprensa que deseja saber mais sobre a literatura brasileira, recomendo os sites: www.literaturadecabeca.com.br e www.lol.pro.br, além dos sites e blogs culturais citados nesta matéria.

E você, o que pensa sobre o assunto? Deixe um comentário neste post.

Ademir Pascale - @ademirpascale

Um comentário:

  1. Quando pego um livro para ler, não costumo escolher pelo autor ou editora, mas sempre que posso leio um nacional, e depois que comecei a participar do "Estante Nacional", pude ter a noção exata de quanto de nossos autores eu leio. Mesmo lendo um bom número de livro nacional por ano, ainda fica muito abaixo se comparado com a quantidade que leio de livros neste período. No meu caso é coincidência, mas sei que muita gente torce o nariz para os autores nacionais. Uma pena.
    bjs, Rose.

    ResponderExcluir