Recebi alguns e-mails de leitores solicitando mais um trecho da continuação de "O Desejo de Lilith". Eis mais um, mas só mais um ;)
"Com as mãos nos bolsos, ele passa cabisbaixo entre as prostitutas que estão esperando por clientes no corredor. E mesmo olhando para o chão, ele nota tudo o que acontece ao seu redor: alguns homens cheiram pó dentro de um dos quartos. Eles não fazem questão de fechar a janela. Outros homens, sentados em caixotes, jogam baralho para adultos, daqueles que estampam mulheres em poses sensuais. Uma prostituta nua sentada em sua cama amamenta o seu filho enquanto espera por clientes. Rafael chega até a porta do seu quarto, o de número seis daquele pequeno pedaço do inferno. Mas algo está diferente: ela está entreaberta e ele nunca, jamais sai de casa sem se certificar de que a porta está realmente fechada.
Ele retira uma das armas que estava presa ao cinto.
Sem munição.
Ele retira a outra arma e verifica que existe apenas uma bala no tambor.
Ele sente ódio. E mesmo com tantos anos de experiência, os erros são inevitáveis. Eles podem significar a morte.
Mas ele sente que já está morto faz muito tempo. E mortos não morrem. Eles apenas mudam de estágio e Rafael tinha certeza que sua próxima etapa seria o inferno.
Ele sorri, pois vive para caçar demônios e se for para o inferno a diversão será garantida, pois é um cara durão, daqueles que apagam a ponta do cigarro na própria pele.
Mas ele não pode errar. Ele deve calcular a quantidade de munição diária. Erros são imperdoáveis.
De qualquer maneira ele ainda tem uma bala no tambor, pior seria se não houvesse nenhuma. Ele não deve errar.
Mais munição ele conseguirá apenas dentro da sua geladeira, no compartimento de frios e laticínios.
Ele entra no quarto. A luz está apagada. Uma mão leve e feminina toca em seu ombro. Ele não se assusta, pois sentiu, ao passar no corredor, o odor do perfume barato daquela prostituta de cabelos vermelhos."
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